Quarta-feira, 23 de Dezembro de 2009

O caso Turco

A Turquia é um caso particular no mapa muçulmano.

É, com uma maioria esmagadora, muçulmana, mas não é um estado islâmico. Está sujeita a uma lei civil e não religiosa, exemplo que não se aplica à maioria dos países predominantemente muçulmanos.

Analisemos: deverá a Turquia ser admitida na União Europeia?

Não se pode responder a esta questão sem, primeiramente, levantar outras que são mais prementes: a Turquia é Europa? a Turquia é "europeia"?

A primeira questão é facilmente respondida em termos geográficos: a parte de Instanbul (antiga Constantinopla, antiga Bizâncio, que corresponde genericamente à zona da antiga Trácia) é definitivamente europeia. Já a anatólia (correspondente à larga maioria do território turco, não o é. Não é por acaso que outro nome dado à anatólia seja o de Ásia Menor.

A questão geográfica é esta. Sobram apenas possíveis interpretações: ou se considera a Turquia parte da Europa por esta conter parte do seu território em solo europeu, ou se considera não Europeia por a sua capital (ou maior parte do território e população) estarem fora da Europa.


A segunda questão, acerca de uma identidade europeia, não é de todo linear.

Se podemos, por um lado, num caso paralelo e parecido com o turco, que é o caso da Rússia, afirmar indubitavelmente, com base no estudo da História, que é uma cultura mais europeia do que asiática, o caso turco não se afigura tão simples de "catalogar". De facto, a Rússia, apesar de eternamente peculiar, tem uma história europeia: desde uma língua de origem indo-europeia (como a vasta maioria das línguas europeias) até à composição religiosa (cristã). Mas, mais importante que isto, a sua génese territorial: definitivamente europeia. Outra evidência é a sua composição étnica: 80% russa, ou seja, eslava. Eslavos como a Polónia, República Checa e Eslováquia (eslavos ocidentais), eslavos como a Eslovénia, Croácia (excepto dalmácia), Bósnia, Montenegro, Macedónia, Sérvia e Bulgária (eslavos merdidionais) e eslavos como Ucrânia e Bielorrússia (eslavos orientais, grupo no qual a Rússia se inclui).

Ora a Turquia não se inclui nos mesmos parâmetros. É de origem asiática (quer de língua, quer territorial) e muçulmana de religião. A única coisa que a Turquia partilhou com a europa foi as suas fronteiras - que outrora se estenderam até à fronteira húngara.

O Império Otomano, o estado predecessor da moderna Turquia, surge com a chegada do povo turco que invade e destrói o Império Bizantino (sobrevivente oriental do Império Romano, mas de matriz grega). Expande-se desde o Médio Oriente e norte de África até ao sudeste europeu. Entre perdas sucessivas de território, acaba por ser dissolvido (como facção derrotada) no fim da 1ª Guerra Mundial - e daqui surge a República Turca.

O argumento territorial, para mim, é irrelevante pois não é o único factor a ter em conta. O povo turco sempre foi, e é, um povo exterior à europa, sem valores comuns, sem "common background", e o argumento territorial não justifica, isoladamente, uma identidade europeia. Um argumento falacioso é o de que por exemplo o Império Romano compreendia a actual Turquia, e que Constantinopla dos Bizantinos foi um importante centro europeu de cultura, logo a Turquia tem fortes "laços europeus". Ora bem, por esta ordem de ideias, vários países não deveriam ser considerados Europa por não terem sido compreendidos pelo Império Romano (Alemanha, países bálticos, escandinávios, etc) e outros deveriam sê-lo (Israel, Libano, Síria, Egipto...). Cartago também foi importante na história europeia, isso não quer dizer que se considere a Tunísia europeia. Fica facilmente arrumada a falácia.

Para finalizar, a questão da adesão ou não adesão da Turquia à UE, dependerá apenas da vontade política: pura estratégia política e nada mais.

Quererá a Europa expandir-se para um contexto que não apreende esse conceito de "europeísmo"? Quererá a Europa fazer fronteira com Iraque? Não sei.

Esta Europa não pode é "vender" a questão em termos de identidade ou de legitimidade histórica.

No máximo poderá alegar um suposto proveito económico ou posicionamento estratégico pois "mais vale tê-los connosco do que contra nós".

Mas aí então, cara Europa, sejamos coerentes e alargemo-nos a todo o norte de África e ao Médio Oriente.

Se o modelo europeu se basear em princípios de entendimento entre culturas com um "common background" e não renegar a sua herança histórica e a partilha desta entre os vários Estados, então yes...

..."Yes, the European model remains superior to that of America and Japan."

- Jacques Delors
 

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publicado por Luís Pedro Mateus às 17:25
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Terça-feira, 1 de Dezembro de 2009

Com pompa e circunstancia

Ver a pompa e circunstancia com que a Constituição Europeia Tratado de Lisboa foi celebrado, dá-me vontade de rir. Riu-me ao pensar que passou á socapa dos cidadão europeus.

 

Rio-me porque foi chumbado quase todas as vezes que foi referendado.

 

Rio-me porque uma personalidade cinzenta e com um nome impronunciável, que era até á bem pouco tempo ( ironia das ironias) primeiro-ministro da Bélgica (esse país moribundo, que foi criado apenas para os alemães e ingleses terem um sitio para resolverem as suas diferenças) para ser presidente do Concelho Europeu (tudo isto feito ás escondidas de modo a ser o mais democrático possível como é obvio).

 

Rio-me porque ninguém percebeu quais são as diferentes competências do concelho e da comissão, o que, como é obvio dará chapada.

 

Rio-me do ministério dos negócios estrangeiros europeus (ou lá como se chama), que com ou sem baronesa inglesa, será apenas uma instituição pomposa e insignificante, que apenas servirá para distribuir rios de dinheiro por países em conflito.

 

Rio-me dos que dizem que isto é o nascimento da Europa como grande potencia. Riu-me porque não houve nenhum governo, ou regime, ou nação ao longo da história, construída apesar dos seus cidadãos, que tenha durado muito tempo.

 

Realmente Napoleão tinha razão: “Uma vez derrotada podes optar entre cobrir-te de serapilheira e cinzas ou folhos”. Os lideres europeus escolheram os folhos.

publicado por Rodrigo Lobo d´Ávila às 23:14
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Low profile

Entra hoje em vigor um tratado com o nome da nossa capital, facto que alguns elementos da nossa classe política oferecem como motivo de orgulho saloio a cada português nesta época natalícia. Mais orgulhosos deveriam estar, suponho, se os portugueses estivessem devidamente esclarecidos relativamente às implicações desta coisa, e se esse esclarecimento, eficaz e inequívoco, tivesse, por eles, sido feito.

 

É que não basta atirar com boas intenções para cima da mesa. Não chega fazer passar acriticamente a generosidade desta ou daquela ideia. É preciso saber pesar o que está em causa. E ser consequente com isso.

 

Mas não consigo deixar de ser condescendente. Quando, para rostos deste novo rumo europeu, se escolhem um senhor belga de cabelo desalinhado e uma baronesa inglesa que ninguém conhece, constato que por cá apenas seguimos os procedimentos normais.

publicado por Tiago Loureiro às 19:15
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