O que ainda não se percebeu em Portugal é que aumentar impostos não resolve coisa nenhuma.
Se resolvesse, com estes 35 anos de consecutivos aumentos de impostos, todos os nossos problemas teriam sido resolvidos, e não o foram.
Mas o problema não é, por si, o subir impostos. Tal até poderia ser bom como uma medida extraordinária, temporária face às pressões que os mercados estão a sofrer de momento. O problema é que, neste país, facilmente se sobe impostos e quase nunca se desce (excepto o IVA, com flutuações de 1%), estando-se a vender uma medida supostamente "extraordinária" que, na verdade, passará a regra futura pois muito dificilmente o Estado abdicará deste aumento de receita. Tal nos prova a história destes últimos 35 anos.
Se aumentar impostos nos permite acelerar a consolidação orçamental que se requer? Sim.
Se essa consolidação orçamental também poderia ser atingida com um real esforço de corte de despesas (acabe-se com os RSI, por exemplo) e sem recurso a aumento de impostos? Sim.
Se as medidas apresentadas hoje pelo Governo vão fazer recuperar a economia? Não.
E não o vão porque, muito simplesmente, consolidação orçamental não significa crescimento da economia.
Se, por um lado, aumento de impostos significa mais receita para combater défices, por outro lado significa um encolhimento do consumo e um desincentivo do trabalho que, completando o ciclo, afecta a produtividade e, asfixiando (ainda mais) a economia real, condena o país à estagnação (aos "crescimentos" de 0,5 ou 1% que temos andado a crescer há quase 20 anos) que, obviamente, apenas contribui para se manter os défices produtivos.
Portanto, não nos iludamos. Na melhor das hipóteses, todas estas medidas urgentes e "extraordinárias" apenas servirão para nos tirar o nariz e a boca fora da água para apenas ficarmos com ela pelo pescoço.
São as medidas de sempre que nos condenam à mediocridade.
São as medidas de sempre que nos condenam a défices, se tudo correr "bem", na ordem dos 3%.
São as medidas de sempre que nos condenam a "crescimentos", se tudo correr "bem", na ordem dos 1%.
E correndo "bem", lá nos regozijamos todos por estas pequenas vitórias morais... De vitória em vitória até à derrota final.
Ainda não se percebeu que o problema é estrutural.
Ainda não se percebeu que o problema é o paradigma.
Ainda não se percebeu o óbvio.
Estas palavras são de Pedro Santana Lopes, numa das suas mil versões anteriores, em que defendia com unhas e dentes a eleição do presidente do PSD em directas. Hoje, pouco mais de dois anos e duas derrotas eleitorais depois, o menino guerreiro vai desfilando mais uma vez sob as luzes da ribalta com a feroz dedicação de recolher as assinaturas necessárias para a realização de um congresso extraordinário antes das próximas directas.
No fundo, o que ele pretende, ainda que sob disfarce, é voltar atrás. A desculpa de que o PSD precisa de discutir ideias, métodos, programas, é todo um conjunto de motivos que demonstram a falibilidade do actual método de escolha do líder em uso no PSD (no PS e no CDS também, já agora) em comparação com os antigos congressos electivos e a falibilidade da convicção de Santana Lopes em 2007.
É uma evidência que o método das directas retira conteúdo a um momento eleitoral que não passa disso mesmo, aprimorado com um congresso no final para servir de enfeite. E torna-se uma evidência que os congressos são o grande fórum de discussão de ideias, argumentos e estratégias, feito sob o signo da pluralidade, de uma verdadeira noção de contraditório, e da emoção natural de quem sente o partido e quer o melhor para ele.
Notícias como esta fazem parecer o futuro do CDS (ainda mais) auspicioso.
Santana tem muitas vidas, é certo.
Quantas terá o PSD?
O país está uma imensa nódoa com tendência para alastrar. Já lá vai, há muito, o tempo em que a nódoa, de pequena, escapava ao olhar despreocupado das pessoas. E já há tempo suficiente que a nódoa ganhou proporções de uma dimensão tal, para que as vistas desarmadas de cada um lhe comprometam a fuga na hora de se tentar esconder. Mas a alguns, vou diagnosticando uma miopia medonha. É que neste cenário, de tão mau, é certo que poucos podem ver algo de positivo. Mas o PSD pode. Esta nódoa grosseira pedia que o tal grande partido da alternância democrática estivesse pronto a limpá-la. Que fosse a alternativa que apregoa ser. Que aproveitasse a oportunidade. Enquanto isso, o PSD prefere percorrer um caminho de definhamento dramático, experimentando o sabor de uma morte lenta. Perdido entre direcções falhadas e inconsequentes num campo de batalha onde vários egos se confrontam, numa altura em que se fala até de Aguiar Branco – sim, o Aguiar Branco! – para presidente, parece ter chegado a altura em que o PSD volta ao zero e discute se, afinal, deve posicionar-se à direita ou à esquerda. O país pode esperar.
.
.
outros blogs