Não me espanta que José Sócrates assuma até ao fim esta faceta de liderança. A necessidade de dar um murro na mesa, a quem em momentos de fragilidade nos tira o tapete, é um instinto tão natural para quem sabe que as opções se estão a esgotar e que as evidências começam a gritar para lá do que é suficientemente perceptível. Por isso, faz todo o sentido que este orgulho impeça aquilo que normalmente seria de esperar no nosso habitué cenário político: uma desistência.
Objectivamente, o simples facto de existirem indícios de condutas éticas dúbias, denunciadas e perfeitamente contextualizadas por vozes reconhecidas sobre o chefe do governo, seria material moral mais do que suficiente para o próprio tomar a iniciativa de uma defesa da honra elementar. Mas José Sócrates, orgulhoso, não vai fazer nada disso. Temos muito azar.
Não será que tanto barulho feito à volta de se criar uma nova discriminação com a proibição de adoptar pelos casais gays não dá razão àqueles que dizem que o casamento tem uma dimensão procriativa da qual é indissociável? Dimensão essa que, por razões óbvias, não é possível num casal do mesmo sexo, levando a que esse casamento na verdade não exista?
É, portanto, ílegitima a posição do BE e do PC quanto ao casamento gay, já que admitiram, ainda que indirectamente, que o casamento apenas existe entre duas pessoas de sexo diferente, sendo também ilegítima a posição do PS, por criar a tal nova discriminação.
Não será esta falta de respeito por mais de 90.000 assinaturas, recolhidas em menos de um mês, um contra-senso, vinda daqueles que dizem advogar contra a "intolerância" e pela "igualdade"?
Por fim, será que esta tarde o deputado MIguel Vale de Almeida vai renunciar ao seu cargo, depois de ter feito a única coisa que se propunha e para a qual o PS apresentou a sua candidatura a esta legislatura? Será substituído por um activista da eutanásia, vegetariano ou da greenpeace para a próxima "causa fracturante"?
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