Também ontem, na conferência a que fui sobre a Regionalização foi perdido muito do tempo a falar sobre transportes, mais concretamente sobre o TGV e o transporte ferroviário.
Sou pessoalmente contra qualquer tipo de obra de carácter faraónico que segundo meia dúzia de mentes iluminadas vai fomentar a economia e vai promover um aumento de crescimento de x%, crescimento esse baseado em previsões altamente falíveis e dignas da capacidade criativa das melhores cartomantes e dos Professores Karamba deste Mundo.
O único crescimento da economia que conheço é aquele que é promovido voluntariamente pelo sector privado da sociedade que aceita tomar riscos de livre e espontânea vontade.
Mais uma vez, a questão do TGV só mostra que os nossos Governantes não têm visão estratégica e de certeza que não estão a investir dinheiro que lhes pertence.
São ditas diversas falácias sobre o TGV: primeiro a de que servirá como importante instrumento no transporte de mercadorias e a segunda de que precisamos desse elefante branco para modernizar Portugal e atingir uma qualquer média europeia.
Relativamente ao transporte de mercadorias há diversos factores a equacionar. Qualquer empresa selecciona o modo de transporte adequado para as suas mercadorias, tendo em conta factores externos, características do produto, características do cliente e características da empresa.
A infra-estrutura ferroviária nacional de transporte de mercadorias simplesmente não existe.
O transporte ferroviário é um meio de transporte competitivo para carregamentos grandes, com grandes dimensões e regulares entre pontos fixos. Ou seja, o transporte ferroviário é competitivo para transportar matérias-primas, produtos a granel e outros produtos onde o custo do transporte seja fulcral no custo final do produto. É um meio de transporte muito pouco flexível devido à necessidade duma infra-estrutura pesada e cara, não permitindo flexibilidade nas entregas. É portanto, no contexto actual um meio de transporte pouco competitivo para mercadorias, sendo pouco compatível com as filosofias Just-in-Time (JIT) ou Quick-Response (QR).
A velocidade do transporte ferroviário (comum) é relativamente baixa e os tempos de espera nos terminais são elevados. O transporte ferroviário tem ainda outro problema grave, o duplo manuseamento da carga. Os prazos de entrega não jogam a favor deste meio de transporte.
Como conclusão pode-se entender que a ferrovia compete com os outros meios de transporte no factor preço. Ora o €/km percorrido no TGV é elevadissimo, logo este nunca será competitivo para transportar o tipo de carga que a ferrovia convencional transporta.
Após uma conferência muito interessante que assisti ontem na Maia sobre a Regionalização com o Dr. Garcia Pereira e com o meu caro amigo João Almeida, não resisto a deixar aqui algumas achas sobre o tema.
Portugal vive hoje uma situação extremamente complicada com um deficit e uma dívida pública gigantes, segundo um estudo ontem apresentado pelo ex-ministro da Finanças Bagão Felix para a SIC, 7 milhões de Portugueses directa ou indirectamente dependem do Estado para ganhar a vida, o nosso sector industrial perde competitividade de dia para dia, os nossos serviços não têm qualidade, o investimento cada vez mais se centra à volta da Grande Lisboa e para finalizar o diagnóstico, como o pior cego é aquele que não quer ver, os Governantes deste País fingem não ver a situação dramática em que vivemos e continuam a projectar obras faraónicas e a querer "modernizar o País" com Planos Nacionais para tudo e mais alguma coisa.
Estando a viver este momento, é essencial cortar na despesa pública e no endividamento, a fim de equilibrar as contas públicas e dar sinais às agências de rating que as coisas se estão a endireitar.
A Regionalização é uma questão estrutural do nosso País, e no meu entender só terá condições para avançar se a mesma ajudar a reduzir a máquina do Estado. Nesta altura, a última coisa que este País necessita é de mais "emprego público". Ainda ontem, o João Almeida dizia que se precisava de rever o mapa de Juntas de Freguesia e Câmaras de Portugal, não podia estar mais de acordo. Deixo aqui uma pergunta, já pararam para pensar para que servem tantas Juntas de Freguesia? Qual o interesse de cidades como o Porto ou Lisboa terem tantas Juntas? Quem diz Porto ou Lisboa, pode também dizer quase todos os concelhos do Distrito de Braga que cada um tem mais de 20, 30 juntas, chegando Barcelos, por exemplo a ultrapassar as 60...
Se a Regionalização servir por exemplo para acabar com isto.. porreiro pah!
Portugal necessita de um Estado competitivo. Portugal precisa de menos Estado, de um Estado que ofereça Serviços de Qualidade aos contribuintes, de um Estado que não se atrase nos pagamentos ou no tratamento de processos e de um Estado barato. Um Estado que seja barato do ponto de vista da despesa dos contribuintes. A Regionalização poderia ser uma óptima oportunidade para se fomentar a concorrência fiscal entre regiões, uma excelente medida que iria certamente ajudar muitas empresas e promover o investimento no nosso País.
Tem continuação,
Beijinhos e abraços,
João Ribeirinho Soares
É pena que tal coisa aconteça apenas como consequência destes tempos de crise, mas a verdade é que, finalmente, se ouvem, por cá, vozes – tímidas, muitas vezes – que reclamam uma descida de impostos como meio para uma animação económica. Quem o tem posto na prática, ou defendido na teoria, não deixa, no entanto, de enunciar a necessidade de se recorrer simultaneamente a um forte programa de investimento público. Tudo isto não pode deixar de compôr um estranho paradoxo, uma que vez que, como disse Hazlitt, “public works mean taxes”, logo mais investimento público representará um peso maior em cada contribuinte.
Deve ser por isso que, por cá, ainda se vai acreditando exclusivamente na superior eficácia do investimento público, seguindo o axioma muito socialista de que as pessoas ou empresas não sabem utilizar a folga na sua disponibilidade financeira, logo, o Estado omnisciente e, como sempre, omnipresente trata de gastá-lo de forma inquestionavelmente correcta. Como se pode ver.
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