Estou calmo e sereno…
José Carlos Ferreira
Correspondendo ao repto e ao desejo do senhor Presidente da República, posso garantir ao país que estou calmo e sereno. Mas, há coisas que se estão a passar que me deixam completamente chateado.
Não me refiro directamente à Lei das Finanças Regionais. Essa foi mais uma birra das várias a que o Governo nos tem habituado.
O que me chateia verdadeiramente são os dez milhões de euros que o Governo atribuiu à Comissão para as Comemorações do Centenário da República. Quer dizer, para umas coisas, o país está mal, é preciso congelar salários, algumas obras não podem ir para a frente e não se pode dar mais 50 milhões à Madeira para corrigir uma injustiça do tempo de Guterres. Mas para outras, é o verdadeiro regabofe.
Na abertura oficial das comemorações ouvi o presidente da comissão dizer que vamos ter ao longo deste ano cerca de 500 eventos para celebrar o centenário da República. Se fizermos uma divisão linear dos dez milhões de euros pelos 500 eventos, chegamos à conclusão que cada um custa cerca de 200 mil euros.
Eu não sei que tipo de eventos vão ser. Para já só ouvi falar numas exposições. A custarem 200 mil euros, devem ser muito interessantes, isto tendo em conta que há por aí uns museus que apresentam ao público mostras de grande interesse e que são muito mais baratas.
Ora, em tempo de crise, não se pode, na minha opinião, dar mostras à União Europeia que somos uns foliões, onde, se é para festejar, não falta dinheiro.
Devia haver mais exemplos no país como a tomada de atitude da Câmara da Vidigueira. O presidente decidiu reduzir o seu salário e o dos seus vereadores, aumentando em 80 euros os salários mais baixos dos trabalhadores da autarquia. O senhor presidente da Câmara da Vidigueira ainda desafiou os seus colegas, os membros do Governo, os deputados e o Presidente da República a seguirem-lhe o exemplo, mas… assobiaram todos para o lado… É claro que eu estou calmo e sereno, mas bastante chateado…
(Publicado no Diário do Minho do dia 08.02.2010)
Onde é que eu já vi este filme? É familiar? Carrega Benfica!
Alguém me explica o que vai na cabeça da malta do BCE? Apesar da situação actual vão por uma pomba no BCE..
Já não são sinais suficientes? Apesar disto tudo o PM e o Ministro das Finanças continuam determinados em levar as suas ideias avante... é isso mesmo! Vamos gloriosamente ao fundo! Em vez de cortar radicalmente nos gastos do estado o nosso governo decide atacar a credibilidade das agências de rating!
Carrega Benfica!!
Afinal já não há vitimização? Passaram de vitimas a fortes negociadores? Não percebo nada disto.
Continuo a adorar as declarações do género.. " o défice e a divida pública são a forma de responder a uma crise". Será que os Socialistas não sabem que existe um mercado de dívidas públicas? e que não convém nada haver desvarios mentais nas contas?
Apesar do Ministro Teixeira dos Santos ter admitido que errou nas contas do deficit, Sócrates lança mais uma pérola.. "o deficit aumentou porque nós decidimos aumentar o deficit".. enfim, visões diferentes.
Como é que podemos acreditar num governo, que, ao mesmo tempo que pede sacrifícios à população e em especial aos funcionários públicos, congelando-lhes os salários - nem sequer aumentando o equivalente à inflação de 0,8% - proporciona um aumento de 3,2% às despesas de representação (viagens, telemóveis, carros, etc..) dos Ministros e respectivo staff directo.
Será que ele não olham aqui para o país vizinho???
Também ontem, na conferência a que fui sobre a Regionalização foi perdido muito do tempo a falar sobre transportes, mais concretamente sobre o TGV e o transporte ferroviário.
Sou pessoalmente contra qualquer tipo de obra de carácter faraónico que segundo meia dúzia de mentes iluminadas vai fomentar a economia e vai promover um aumento de crescimento de x%, crescimento esse baseado em previsões altamente falíveis e dignas da capacidade criativa das melhores cartomantes e dos Professores Karamba deste Mundo.
O único crescimento da economia que conheço é aquele que é promovido voluntariamente pelo sector privado da sociedade que aceita tomar riscos de livre e espontânea vontade.
Mais uma vez, a questão do TGV só mostra que os nossos Governantes não têm visão estratégica e de certeza que não estão a investir dinheiro que lhes pertence.
São ditas diversas falácias sobre o TGV: primeiro a de que servirá como importante instrumento no transporte de mercadorias e a segunda de que precisamos desse elefante branco para modernizar Portugal e atingir uma qualquer média europeia.
Relativamente ao transporte de mercadorias há diversos factores a equacionar. Qualquer empresa selecciona o modo de transporte adequado para as suas mercadorias, tendo em conta factores externos, características do produto, características do cliente e características da empresa.
A infra-estrutura ferroviária nacional de transporte de mercadorias simplesmente não existe.
O transporte ferroviário é um meio de transporte competitivo para carregamentos grandes, com grandes dimensões e regulares entre pontos fixos. Ou seja, o transporte ferroviário é competitivo para transportar matérias-primas, produtos a granel e outros produtos onde o custo do transporte seja fulcral no custo final do produto. É um meio de transporte muito pouco flexível devido à necessidade duma infra-estrutura pesada e cara, não permitindo flexibilidade nas entregas. É portanto, no contexto actual um meio de transporte pouco competitivo para mercadorias, sendo pouco compatível com as filosofias Just-in-Time (JIT) ou Quick-Response (QR).
A velocidade do transporte ferroviário (comum) é relativamente baixa e os tempos de espera nos terminais são elevados. O transporte ferroviário tem ainda outro problema grave, o duplo manuseamento da carga. Os prazos de entrega não jogam a favor deste meio de transporte.
Como conclusão pode-se entender que a ferrovia compete com os outros meios de transporte no factor preço. Ora o €/km percorrido no TGV é elevadissimo, logo este nunca será competitivo para transportar o tipo de carga que a ferrovia convencional transporta.
Após uma conferência muito interessante que assisti ontem na Maia sobre a Regionalização com o Dr. Garcia Pereira e com o meu caro amigo João Almeida, não resisto a deixar aqui algumas achas sobre o tema.
Portugal vive hoje uma situação extremamente complicada com um deficit e uma dívida pública gigantes, segundo um estudo ontem apresentado pelo ex-ministro da Finanças Bagão Felix para a SIC, 7 milhões de Portugueses directa ou indirectamente dependem do Estado para ganhar a vida, o nosso sector industrial perde competitividade de dia para dia, os nossos serviços não têm qualidade, o investimento cada vez mais se centra à volta da Grande Lisboa e para finalizar o diagnóstico, como o pior cego é aquele que não quer ver, os Governantes deste País fingem não ver a situação dramática em que vivemos e continuam a projectar obras faraónicas e a querer "modernizar o País" com Planos Nacionais para tudo e mais alguma coisa.
Estando a viver este momento, é essencial cortar na despesa pública e no endividamento, a fim de equilibrar as contas públicas e dar sinais às agências de rating que as coisas se estão a endireitar.
A Regionalização é uma questão estrutural do nosso País, e no meu entender só terá condições para avançar se a mesma ajudar a reduzir a máquina do Estado. Nesta altura, a última coisa que este País necessita é de mais "emprego público". Ainda ontem, o João Almeida dizia que se precisava de rever o mapa de Juntas de Freguesia e Câmaras de Portugal, não podia estar mais de acordo. Deixo aqui uma pergunta, já pararam para pensar para que servem tantas Juntas de Freguesia? Qual o interesse de cidades como o Porto ou Lisboa terem tantas Juntas? Quem diz Porto ou Lisboa, pode também dizer quase todos os concelhos do Distrito de Braga que cada um tem mais de 20, 30 juntas, chegando Barcelos, por exemplo a ultrapassar as 60...
Se a Regionalização servir por exemplo para acabar com isto.. porreiro pah!
Portugal necessita de um Estado competitivo. Portugal precisa de menos Estado, de um Estado que ofereça Serviços de Qualidade aos contribuintes, de um Estado que não se atrase nos pagamentos ou no tratamento de processos e de um Estado barato. Um Estado que seja barato do ponto de vista da despesa dos contribuintes. A Regionalização poderia ser uma óptima oportunidade para se fomentar a concorrência fiscal entre regiões, uma excelente medida que iria certamente ajudar muitas empresas e promover o investimento no nosso País.
Tem continuação,
Beijinhos e abraços,
João Ribeirinho Soares
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