Podemos e temos todos os motivos para estar preocupados com o estado da nossa economia e das nossas instituições, mas não podemos ignorar o cenário alarmante com muitos países e regiões do mundo se defrontam em termos políticos, económicos e sociais e que, por mais pequenos que esses países aparentem ser, o que sucede dentro das suas fronteiras tem, ou poderá inevitavelmente ter repercussões catastróficas em todo o mundo.
Este é o índice de Estados falhados no mundo ou de Estados que caminham nesse sentido. A tentativa de atentado no vôo 253 da Delta-Northwest Airlines nos EUA serviu para reavivar a memória da comunidade internacional de que o terrorismo é ainda a maior ameaça com que o ocidente se defronta e, do mesmo modo, o são os Estados incapazes de manterem a sua ordem interna. Estamos a empenhar enormes recursos humanos e materiais no Afeganistão para derrotar de uma vez por todas a al-Qaeda na região e assistimos simultaneamente ao seu ressurgimento em outros pontos de igual preocupação como o Iémen, a Somália ou o Iraque, países esses onde a situação merece acrescido destaque. O que aconteceu no vôo 253 levou, por um lado, muitos analistas internacionais a alertarem para o facto de o Iémen ser a próxima frente na guerra contra o terrorismo e, por outro, a repensar toda a estratégia de contra-terrorismo nestes países.
O terrorista que se encontrava dentro do vôo 253 tinha nacionalidade nigeriana, tendo recebido formação da rede da al-Qaeda no Iémen. Ora, o Iémen é um típico exemplo de Estado falhado. Possui um vasto território, com recursos mal distribuídos, um elevado nível de pobreza e desemprego, uma economia em colapso, uma população dividida por ideologias políticas e tribais que, para acrescentar às suas dificuldades, se defronta com o problema da escassez de água. Derivado das facções ideológicas, o país vive uma guerra civil causada por um movimento secessionista no sul e por uma rebelião xiita no norte em confronto com o governo, por sua vez bastante corrupto. Este é o cenário preferido para a al-Qaeda se movimentar, pois sendo o governo fraco e incapaz, beneficia de total liberdade de acção. Também, de forma igualmente alarmante, na Somália, a al-Qaeda que até há pouco tempo apenas tinha ligação aos grupos islâmicos extremistas nacionais, tem-se vindo a colocar por trás dos ataques de pirataria no Golfo de Áden.
A al-Qaeda é portanto um produto dos Estados falhados e emerge onde existam conflitos locais. Neste sentido, a comunidade internacional defronta-se com um enorme desafio, cujas previsões de sucesso se aparentam difíceis. As redes terroristas são como um vírus: têm alcance global, mudam as suas tácticas à medida que seus segredos vão sendo descobertos, vão-se infiltrando onde o anti-virus não estiver activado e onde existir uma brecha securitária. Daí o problema destes Estados, pois é nesses países onde existem pessoas desesperadas e dispostas a serem radicalizadas, além de que, como já vimos, com poucos recursos é possível inflingir danos humanos e materiais inimagináveis em qualquer parte do mundo. A globalização tem de facto as suas desvantagens. E por isso questiono: irá alguma vez ser possível derrotar estas redes terroristas?
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