Quem lê o Sol de hoje pode achar-se vítima de ataque de diversos sentimentos: indignação, vergonha, frustração, irritação... Mas, tal como ontem afirmou Lobo Xavier na Quadratura do Círculo, surpresa não é coisa que afecte quem lê aquelas sete páginas e tenha a mínima noção da realidade do país em que vive. Compadrios, influências, manobras, manipulação, enfim, a mão gorda de quem manda e acha que tudo pode - a mão imunda de um estado que nunca mais acaba e que em tudo marca presença – constantemente em acção manchando a decência e a dignidade da nossa democracia e, acima de tudo, compromentendo a nossa liberdade.
Felizmente, a bem do nosso direito à privacidade, o PS parece ter esquecido a idiotice de expor publicamente os rendimentos dos contribuintes. No entanto, houve qualquer coisa que ficou exposta mais uma vez: depois das polémicas desavenças entre Francisco Assis e os seus vice-presidentes – uma disputa em que até Sócrates tomou partido – o grupo parlamentar socialista volta a mostrar sinais de divisão e discordância, sem fazer questão de as guardar no no recato da privacidade. Então não é que Francisco Assis adiantou nem sequer tinha conhecimento da proposta, tendo sabido dela pelos jornais?
Eu continuarei fã, como sempre, deste espaço informativo reaccionário e tendencioso e do senhor que o apresenta. Hoje, mais do que nunca.
Há, em Portugal, uma tendência que vem de longe e que tem sido agudizada pela constante má convivência do governo socialista com a crítica. Diz essa tendência, que o jornalismo quer-se casto e livre de parcialidade. O jornalismo deve ser isento e acrítico. O nosso jornalismo tem de respeitar uma série de padrões éticos e deontológicos, que mais não são do que as considerações arbitrárias e anónimas emanadas pela máquina que tudo limita.
Ao escrever isto, passam-me pela cabeça imagens de um Bill O’Reilly a divulgar com estrondo tamanho ridículo. Até de um Jon Stewart sem necessidade de alterar esta história para fazer uma piada. Esses dois belos exemplos de imparcialidade, pois então.
O Tiago Moreira Ramalho deu finalmente o pontapé de saída no seu Plomb du Cantal. A acompanhar.
Anúncia-se o nascimento da República do Caústico. O João Maria Condeixa, amigo cá da casa, volta ao activo na blogosfera. Já fazia falta.
Tiago Moreira Ramalho, no Aparelho de Estado:
«Em todo o mundo há cerca de trinta países sem Salário Mínimo estabelecido por lei. Parece pouco, quando vemos o número. Mas o interessante aqui não é o número de países sem Salário Mínimo. O interessante aqui é saber que países são esses. Entre os países sem Salário Mínimo encontramos a Áustria, a Dinamarca, a Finlândia, a Islândia, a Itália, a Noruega e a Suíça. Estes países, excelso leitor, para além de estarem entre os mais desenvolvidos do mundo, estão também entre os países com menos desigualdades sociais. É verdade. Nós, em Portugal, temos níveis de taxação semelhantes aos nórdicos (já, leitor, já) e, apesar (ou por causa?) do Salário Mínimo Nacional, continuamos a ter níveis de pobreza confrangedores para qualquer país que se auto-proclame "desenvolvido".»
Após a escolha de Mário Soares como candidato do PS nas últimas presidenciais, uma facção socialista, que pretendia ver Manuel Alegre como candidato presidencial, emancipou-se ao ponto de criar uma cisão com o partido, promovendo uma candidatura própria.
Também por isso, Alegre foi ganhando anticorpos em muitos sectores do seu partido. A candidatura presidencial à revelia do PS somada à constante postura de desalinhado no grupo parlamentar e na opinião pública, levaram o poeta a merecer o olhar desconfiado de alguns dos seus camaradas.
Por isso é legítimo aplicar a mesma lógica de 2006 de forma inversa. E se agora, que Manuel Alegre é um sapo que Sócrates provavelmente vai engolir, o PS se dividir à custa de uma facção contra Alegre?
Manuel Alegre será candidato nas presidenciais. Ponto. De Cavaco Silva não se espera outra coisa que não seja uma recandidatura. Perante estes dois candidatos, aceitam-se apostas de qual receberá o voto de José Sócrates.
A argumentação socialista baseada na colagem literal ao seu programa na questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo – que os levou a recusar propostas de dois partidos nesse sentido há uns tempos e os fez aprovar o alargamento do "casamento" para os homossexuais sem a adopção – pode tornar-se num beco sem saída para o PS.
Vamos imaginar que a inconstitucionalidade da coisa fica provada. O que fará Sócrates? Inclui a adopção e legisla sobre uma situação para a qual – segundo a lógica socialista – não tem mandato para legislar? Ou volta atrás, fazendo aprovar um regime jurídico próprio para estes casos, deixando cair a proposta programática de “remover as barreiras jurídicas à realização do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo”?
Num caso como noutro, o argumento oco que os socialistas foram usando como fuga, será o mesmo que os vai fazer cair numa armadilha programática e jurídica criada por eles próprios.
.
.
outros blogs