Um galeão passa defronte da Torre de São Vicente de Belém naquele frio Dezembro de 1640. Leva para sempre, da terra onde foi Vice-Rainha, a bela e altiva Margarida de Sabóia, Duquesa Viúva de Mântua. A ambiciosa e impetuosa Senhora há-de ter recordado o dia – precisamente 6 anos antes – em que os seus olhos vislumbraram pela primeira vez aquele baluarte, obra do seu trisavô D. Manuel I. E, naquele olhar derradeiro sobre a cidade e a nação que julgou ser a sua felicidade, há-de ter murmurado um lamento, uma maldição, uma praga:
“ - Agora que a tua bandeira se iça e, independente e soberana, festejas a rejeição da Nossa protecção, governo e Império, chegará o dia em que, neste preciso lugar, comemorarás a tua rendição com iguais fogos de vitória. Da tua actual arrogância nada sobrará, só o baluarte dos meus avós permanecerá!”
Acometidos que fomos - no dia da celebração da Independência e Restauração da Coroa e Independência Portuguesas - pelas celebrações de um tratado imposto e ratificado às esconsas, que retira ainda mais parcelas de soberania aos Estados envolvidos (Portugal incluído), cujo maior feito é a consagração do império das potências sobre as outras nações europeias, erguendo um mundo precisamente inverso ao de Dezembro de 1640, só me ocorre o célebre ditado (em castelhano, pois então!) “Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay".
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