Não será que tanto barulho feito à volta de se criar uma nova discriminação com a proibição de adoptar pelos casais gays não dá razão àqueles que dizem que o casamento tem uma dimensão procriativa da qual é indissociável? Dimensão essa que, por razões óbvias, não é possível num casal do mesmo sexo, levando a que esse casamento na verdade não exista?
É, portanto, ílegitima a posição do BE e do PC quanto ao casamento gay, já que admitiram, ainda que indirectamente, que o casamento apenas existe entre duas pessoas de sexo diferente, sendo também ilegítima a posição do PS, por criar a tal nova discriminação.
Não será esta falta de respeito por mais de 90.000 assinaturas, recolhidas em menos de um mês, um contra-senso, vinda daqueles que dizem advogar contra a "intolerância" e pela "igualdade"?
Por fim, será que esta tarde o deputado MIguel Vale de Almeida vai renunciar ao seu cargo, depois de ter feito a única coisa que se propunha e para a qual o PS apresentou a sua candidatura a esta legislatura? Será substituído por um activista da eutanásia, vegetariano ou da greenpeace para a próxima "causa fracturante"?
errado. Eu defendo o referendo e tenho pena que este país quando chamado a se pronunciar vá para a praia.
Eu defendo é que a igualdade de algumas pessoas não possa ser decidida pela maioria. Sim, porque o que se discute é a igualdade de direitos perante o casamento civil.
Não me parece lógico que eu possa decidir quem se pode casar ou não.
Quanto ao seu ultimo paragrafo, não o comento.
De Joaquim Amado Lopes a 10 de Janeiro de 2010 às 13:47
O Daniel escreveu:
"Esta plataforma exige um referendo, mas esconde publicamente as posições que têm sobre o assunto."
Este comentário só faz sentido se se achar que a posição de cada sobre a matéria a ir a referendo é relevante para se exigir o referendo ou não. Só o é para os hipócritas.
O Daniel pode achar que a matéria em causa não deve ser referendada. Eu acho que tudo o que possa ser decidido por quem foi eleito para nos representar é passível de ir a referendo e que defender que há questões que - apesar de não serem consensuais - são tão "óbvias" que não merecem discussão é achar-se detentor da verdade absoluta e querer impôr a sua opinião aos outros.
Naturalmente, não defendo que a gestão do Estado seja feita através de referendos sucessivos mas todas as matérias estruturantes em termos de Estado e sociedade são transversais aos partidos políticos e ultrapassam os limites temporais da legislatura.
Assim, havendo interessados em que determinada matéria vá a referendo (manifestado, p.e., através de uma petição com mais de 90 mil assinaturas), o referendo deve ser realizado.
Além de que, nesta matéria em concreto, tenho a certeza absoluta de que a maioria dos que recusam o referendo estariam na linha da frente a exigi-lo se a situação fosse inversa: maioria parlamentar contra a alteração legislativa e noção de que a maioria da população estaria a favor.
"o que se discute é a igualdade de direitos perante o casamento civil"
Não, não é. O que se discute é o significado do casamento.
Não se está a discutir se os homossexuais podem ou não casar uma vez que a Lei não faz qualquer discriminação em função da orientação sexual. Tal como os heterossexuais, os homossexuais também podem casar. Só não podem é casar com pessoas do mesmo sexo - exactamente como os heterossexuais.
E o que alguns (muitos?) dos defendores do casamento entre pessoas do mesmo sexo pretendem (no sentido de opinião e objectivo) é que os preconceitos se combatem por decreto. Por outras palavras, pretendem legislar sobre o que cada pode ou não pensar.
Não sei qual é a sua opinião sobre isso mas essa pretensão faz-me recordar "1984" de George Orwell e desperta em mim fortes sentimentos anti-fascistas/comunistas.
Quanto a o país ir para a praia quando é chamado a participar num referendo, (além de não ser verdade) em democracia decide quem aparece. Quem decide não aparecer delega nos outros que decidam por si.
É por isso que defendo que os resultados dos referendos devem ser sempre vinculativos, independentemente da taxa de votantes.
Nem todos dão a mesma importância aos mesmos assuntos. Respeitar a opinião dos outros inclui aceitar que outros se estejam nas tintas para questões que nós consideramos fundamentais.
Caro Joaquim,
cumprimentos pelo excelente comentário, embora discordando de alguns aspectos.
Ouvi um especialista espanhol, que analisa igual situação em Espanha, que defendia que com a lei as mentalidades começaram a mudar. Infelizmente, defendia ele e dando o exemplo de Espanha, no caso concreto quem mudou a mentalidade foi a lei, visto que para ele, o contrário nunca seria possível.
Concordo perfeitamente que os referendos deveriam ser vinculativos independentemente dos votantes.
Discordo que o debate tenha a ver com a definição de casamento, lembro que estamos a falar de casamento e não de matrimonio.
Reforço, cumprimentos.
De Joaquim Amado Lopes a 10 de Janeiro de 2010 às 21:07
Daniel,
As leis podem ajudar a mudar as mentalidades, ao forçar situações em que as pessoas são confrontadas com a prova da irracionalidade dos seus preconceitos.
Por exemplo, nos EUA, quando a integração racial foi imposta nas escolas pela força da Lei e das armas.
Com a convivência forçada entre alunos de raças diferentes, o preconceito de que os negros eram inferiores foi posto em causa quando os jovens brancos racistas foram confrontados com o facto de que a côr da pele não passa disso mesmo.
O resultado foi positivo? Depende do ponto de vista.
É positivo que o confronto com a realidade acabe com determinados preconceitos de determinadas pessoas. Mas, no caso que apresentei, esse resultado foi acompanhado de violência (com feridos e mortos) e aumento do extremismo racista.
Valeu a pena porque a alteração de mentalidades salvou mais vidas? Quem pode fazer essas contas?
E quem defende que se justifica sacrificar inocentes para potencialmente salvar mais inocentes?
Ninguém tem nada a ver com o que se passa dentro da cabeça de cada um. E de certeza que ninguém tem nada que impôr determinadas opiniões ou pontos de vista.
Se alguém é homofóbico, sexista, racista ou xenófobo, isso só passa a interessar a outros a partir do momento em que essa pessoa actue baseado nesses preconceitos de forma a prejudicar outros.
É livre de pensar o que quiser e mesmo de o defender em público, por muito detestável que pareça à generalidade da sociedade.
O meu problema com medidas deste género (engenharia social) é que não se procura convencer mas sim impôr uma determinada visão da sociedade.
Numa discussão, se o meu interlocutor pretende impôr a sua opinião como a única válida, distancio-me imediatamente dele mesmo que partilhe da sua opinião.
No caso espanhol, não aceito que a alteração das mentalidades se deva exclusivamente às medidas legislativas.
A realidade social evolui constantemente e as mentalidades evoluem com ela. Pretender delimitar e calendarizar essa evolução (das mentalidades) através da força da Lei só acelera algo que devia ser natural ao mesmo tempo que potencia o extremar de posições.
Quanto à distinção entre casamento e matrimónio, pode elaborar?
Um abraço
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