João Moreira Pinto, no 31 da Armada:
Das cenas mais enternecedoras da época natalícia é ver ateus militantes a desembrulhar presentes, escandalizados que estão com o materialismo da época. Gozam o subsídio de Natal, aproveitam a tolerância de ponto, ouvem as palavras do amado líder, enquanto lhe pedem um Estado laico. Querem as escolas sem cruzes, uma sociedade livre dos estigmas judaico-cristãos e sonham uma sociedade iluminista, racional e cientificamente perfeita. Sonham de olhares fixos no céu e brilhantes, reflexos das decorações de Natal.
Ateus militantes e teístas militantes, apesar de não admitirem, têm muito em comum.
Ambos são crentes, de tal forma, na sua verdade dogmática, que em ambos os casos podemos falar de uma fé.
O ateísmo militante e repugnante que, imbecilmente, postula que os teístas são carneiros ignorantes e fracos encontra-se, surpreendentemente, bastante próximo do teísmo jactante que pinta os não crentes como infelizes e menos iluminados na Verdade.
Se, para um ateu, não existe por princípio qualquer problema no facto de uma sociedade estar assente em valores de génese teológica (todas estão) que maturaram e deram origem aos pilares identitários dos Estados actuais, para um crente não deveria haver qualquer problema por haver ateus que, identificando-se com pressupostos da filosofia cristã e compreendendo o valor da tradição religiosa na sociedade, adiram aos ritos não por fé, mas por tradição.
O problema das militâncias é, portanto, uma questão de generalização e incompreensão de parte a parte.
Que fé maturada terá uma criança no seu baptizado ou na sua primeira comunhão? Não estará ela, antes do mais, a cumprir uma tradição, ao invés de estar a tomar parte, conscientemente, num acto religioso e de vinculação a Deus?
Da mesma forma, que ateísmo convicto e anti-religioso (porque é disso que se trata) terá alguém que, depois de durante um ano inteiro ter cavalgado a sua cruzada anti-religiosa pessoal, tome parte no ritual bi-milenar que dá graças à vinda do Filho do Senhor?
Se virmos bem, a questão ateística é quase política, de pura inspiração ideológica: conservadorismo versus progressismo.
Há muito mais proximidade entre ateus conservadores e teístas moderados do que entre estes e ateus progressistas militantes ou teístas ultra-conservadores igualmente militantes.
A importância do pensamento conservador está precisamente na ênfase que se dá à compreensão do passado, da história, dos costumes e, acima de tudo, dos valores.
As questões de fé são facilmente ultrapassadas pelo entendimento intelectualmente honesto entre Homens de Bem, independentemente de quem é o Verbo para cada um deles.
Se para uns haverá um mundo e uma vida depois da morte e para outros não, isso não invalida que estejam todos condenados a entenderem-se neste.
Em primeiro lugar caro Luís Pedro, não creio que a religiosidade se trate de uma militância. Militância trata-se de defender uma posição e uma ideologia que se define muitas vezes em oposição ao adversário dentro de uma sociedade. Significa por vezes entrar em conflito. Portanto é algo exterior a nós. A religiosidade, ao invés, é algo que vem de dentro de cada um de nós e que nos completa e permite viver integralmente direccionados para o Bem. Porque independentemente do que muitos possam alegar ou tentar deturpar, qualquer religião no seu fundamento, procura e luta pelo amor ao próximo. A religiosidade dentro de cada um de nós procura um auto-aperfeiçoamento perante a imperfeição que é o ser humano.
E é neste sentido que não compreendo de todo a campanha anti-religiosa feita nas nossas sociedades, nomeadamente por parte de ateus que renegam os valores ético-morais que ainda nos restam; campanha contra as manifestações e símbolos religiosos; campanha contra a acção dos católicos (e refiro-me neste caso particularmente aos estandartes de Natal) em fazer regressar as celebrações Natalícias às suas origens. Se Jesus não tivesse nascido, esta também não seria uma altura de enaltecimento do consumismo. Não vejo benefícios nenhuns na campanha pró-ateista que se pratica nas sociedades ocidentais europeias! E esses, que não entendem aqueles que acreditam em algo bom que os transcende, são no fundo os maiores intolerantes. No fundo, exprimem uma revolta por não acreditarem em nada para além da morte e atacam aqueles que se sentem felizes por acreditarem. E a sua revolta no fundo, baseia-se numa insegurança que eles próprios não conseguem resolver. Mas creio que a sua revolta maior reside no facto de a religião colidir com os seus interesses materialistas e egoístas.
Não creio por isso que a falta de entendimento entre as duas «militâncias» a que te referes se deva àqueles que acreditam que «haverá um mundo e uma vida depois da morte».
Cara Maria, estava a estranhar a demora do teu comentário sobre o assunto.
Acho que cometes apenas um pequeno erro.
Eu não digo que a religiosidade, por si, é um acto de militância. Da mesma maneira que o ateísmo, por si, também não é um acto de militância.
O que acontece é que, tanto com o ateísmo como com o teísmo, existem facções (chamemos-lhe assim) que fazem das suas crenças uma questão de militância.
Assim o é com alguns ateus que querem acabar com a religião.
Assim o foi (e o é ainda com algumas organizações) com alguns crentes que queriam acabar com os "desvios de fé". (lembrar cruzadas, inquisição, etc)
Bom senso e moderação é o que se quer. Para tudo na vida.
So nao respondi antes porque nao estava em casa eheh
Nos dias que correm, só vejo tentativas de aniquilação por parte de uma parte. e refiro-me somente às sociedades ocidentais. A situação inverteu-se, apesar dos processos evolutivos pelos quais já passáram as nossas sociedades.
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