Terça-feira, 22 de Dezembro de 2009

Quintais

"Entraram no meu quintal!" - é o pensamento que terá passado pela mente de JFK quando a União Soviética depositou mísseis nucleares na tão complicada vizinha Cuba. Esse mesmo pensamento que trespassou os soviéticos nas intervenções Norte-Americanas no Vietname e na Coreia. Em todos eles, o respectivo "dono" do quintal impôs-se fortemente. Quer na situação de Cuba, em que Kennedy ameaçou com guerra, quer na Coreia e no Vietname em que União Soviética massivamente apoiou com meios e organizou as forças locais.

Com a queda da União Soviética, a Rússia demorou a recuperar, mas está lentamente a fazê-lo. Eis que o gigante acorda e vê uma situação indesejada nos seus quintais: 

 

- Na Sérvia, uma intervenção da NATO nesse histórico aliado Russo ocupa a região seraratista do Kosovo e mais tarde reconhece a declaração unilateral de independência deste. 

- No Leste Europeu, ex-União Soviética, uma crescente presença Americana no que toca a armas de defesa e integração dos países na NATO.

 

- Presença militar americana no Iraque e no Afeganistão, regiões que durante séculos estiveram debaixo da zona de influência, primeiro, do Império Russo e, depois, da União Soviética.
 

- No Cáucaso, particularmente na Geórgia, também ela antiga República Soviética, mais do mesmo.


Eis que a Rússia, após anos de recuperação, começa a re-equilibrar o xadrez geo-político mundial no que toca medição de força e àreas de influência.

Após um enormíssimo tiro no pé, quer por parte de quase toda a Europa quer pelos Estados Unidos, que foi o reconhecimento da independência do Kosovo, a Rússia responde na mesma moeda e reconhece, após intervenção militar na Geórgia, as repúblicas da Abecássia e da Ossétia do Sul (regiões separatistas da Geórgia). 

Europa e Estados-Unidos, sem coerência, decidem não reconhecer as pretensões de Abecazes e Ossetas quando são casos em tudo semelhantes ao Kosovo: diferenças étnicas.

Mas então, porquê reconhecer o Kosovo e não a Abecássia, a Ossétia do Sul ou a Transnístria? Mais, porque não reconhecer o direito de independência a Bascos e Catalães se estes decidirem declarar unilateralmente a sua independência? E já agora, num plano mais caseiro, porque não reconhecer automaticamente a Madeira como estado independente se esta assim o declarar de forma unilateral? Tudo isto são questões delicadas do direito internacional e é por isso que se deve ter o maior cuidado com este tipo de decisões.

A questão é simples, há lógicos interesses estratégicos na região do Kosovo. A presença da NATO lá não é acidental, assim como não é por acaso que os líderes kosovares tenham sido nomeados pela mesma. Por isso, este reconhecimento da independência Kosovar foi feito pelos piores motivos. Não foram ponderadas as legitimidades históricas (que os líderes Europeus e Americanos pouco conhecem) e analisadas as consequências que teriam em outras regiões separatistas e o mau serviço prestado ao direito internacional. O reconhecimento do Kosovo veio na mesma linha de acção que NATO e EUA têm vindo a seguir: puxar para cá esses "quintais" da Rússia de modo a "isolar" este gigante que, recuperado, assumirá sempre o seu papel imperialista e quererá exercer a sua influência nesta parte do hemisfério.

A resposta Russa não se fez tardar. Acção militar na Geórgia (mais que provável futuro membro da NATO) que terminou com o reconhecimento Russo da independência da Abecássia e Ossétia do Sul. 

Não ficou por aqui. É anunciada a presença de forças Russas na Venezuela de Hugo Chávez (alguém vê alguma semelhança com a situação de Cuba nos anos 60?) na América do Sul - verdadeiro "quintal" Norte-Americano.

É como quem diz: "Metes-te no meu quintal, eu meto-me no teu."

 

publicado por Luís Pedro Mateus às 15:53
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2 comentários:
De manuel gouveia a 22 de Dezembro de 2009 às 17:19
Os russos na Venezuela? Parece-me uma provocação! E agora na época Obama ninguém leva a mal que os EUA ponham um Macdonlads no Kosovo... certo?


De Miguel Canedo Martins a 23 de Dezembro de 2009 às 20:12
Luís Pedro Mateus,

Avalio o seu artigo da seguinte forma:

É um registo falacioso de coincidências, destinado a alimentar uma teoria da conspiração.



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