Quinta-feira, 20 de Maio de 2010

A República

 

Quase 100 anos se passaram desde que foi declarada em Portugal a República.

Quase 100 anos volvidos, impera fazer uma reflexão abrangente sobre o que significa a República como conceito de forma de governo, o que significou ela em Portugal e abordar igualmente as paixões que o debate República vs. Monarquia ainda suscita.

 

Todo o debate que se faz à volta da questão "República ou Monarquia?" frequentemente desemboca numa série de argumentos inconsequentes que mais não fazem do que arredar da discussão os factos que interessam, de facto, discutir.

Tentar justificar uma opção pró-Monarquia fazendo uma apologia da "estabilidade" desse tipo de governo e uma condenação dos crimes das revoluções republicanas e dos defeitos das novas repúblicas é tão inútil como justificar uma opção pró-República usando o mesmo tipo de argumentos assentes mais em erros pontuais de regime e inerentes a cada caso particular do que em filosofia política concreta.

Estas duas correntes de debate, apesar de exaltarem paixões, nada mais fazem do que se limitarem a sofismar.

 

Bem se sabe que hoje em dia, pelo menos na sociedade ocidental, já não se fala de monarquia absoluta. Fala-se de monarquia representativa e democrática, como é o caso espanhol, britânico, holandês, belga, luxemburguês, dinamarquês, sueco e norueguês. Nesta altura, o recorrente debate de sofismas que exalta algumas pessoas poderia conduzir logo para o aparecimento de argumentos pró-monárquicos, de que todos estes países são países extremamente desenvolvidos (mais desenvolvidos do que a República Portuguesa) e de argumentos pró-republicanos, de que estes países representam uma minoria e que existem repúblicas (como a francesa e a alemã) que são tão, ou mais desenvolvidas do que os enunciados países monárquicos.

 

A República, nas suas diversas formas de governo democrático, e é aqui que importa centrar a discussão (e não em repúblicas totalitárias), apresenta um conceito de democracia mais evoluído na questão da posição de Chefe de Estado. De facto, na República, o Chefe de Estado é alguém eleito directamente pelo povo e aberto a qualquer cidadão apto, ao contrário da Monarquia, em que é um órgão não sujeito a eleição e que só pode ser ocupado por alguém que pertença à linhagem de uma determinada família. Neste aspecto, e tão somente neste, se pode falar dum conceito mais evoluído de democracia: não existe um direito natural e pré-adquirido de uma pessoa a um órgão de soberania do Estado.

 

Vivemos numa República que foi declarada de uma forma atabalhoada e anárquica, com a ignorância da população, e que foi bem sucedida mais por inércia e inaptidão do Estado da altura do que por valor e organização das facções republicanas. Tentar pintar a 1ª República como um regime libertador e democrático é, para qualquer pessoa que conheça o mínimo de história, extremamente ridículo e insultuoso ao próprio conceito de democracia. De facto, tentar dizer que um regime em que se prendia sem mandato, se executavam opositores, onde a justiça era inexistente e na rua reinava (ironia das ironias) o caos e anarquia, é, no mínimo, passar um atestado de estupidez às pessoas ou um exercício de senilidade aguda só ao alcance do Dr. Mário Soares.

Estabelecendo o facto de que Portugal só se tornou uma República democrática depois do 25 de Abril de 1974 (25 de Novembro de 1975, de facto) torna-se um pouco inconsequente, nos dias de hoje, discutir se Portugal deveria ser uma Monarquia ou continuar uma República, baseado no facto de não ter havido uma consulta popular. Quase tão inconsequente como discutir se Portugal deveria ter declarado (sem consulta popular), no 1º de Dezembro de 1640, a sua restauração de independência face a Espanha ou discutir se D.Afonso Henriques deveria ter declarado (sem consulta popular) em 1139 a independência de Portugal face ao Reino de Leão e Castela. Portanto, defender a realização de um referendo sobre se Portugal deverá ser uma Monarquia ou uma República é tão relevante, a nível de justiça histórica, como um referendo sobre se Portugal deverá fazer parte de Espanha ou como um referendo sobre se Portugal deverá ser uma ditadura ou uma democracia. Qualquer decisão que adviesse do referendo seria, de facto, uma decisão democrática, mas nem por isso eticamente aceitável.

 

A democracia não é um conceito linear e absoluto. Em nome desta não se deve cair na tentação de, permitam-me a expressão, "retroceder" em direitos de maior abrangência democrática. De certa forma, e já tinha abordado isto noutra análise, a democracia pode funcionar numa lógica anti-democrática ao atentar contra ela própria. Exemplo desta permissa seria um referendo à ditadura em que, numa decisão democrática, se acaba com a democracia.

Não querendo, de forma nenhuma, estar a comparar a Monarquia com a ditadura (e só quem não leu bem é que poderá assim interpretar), o que quero dizer é que, tratando-se a República democrática de um conceito mais abrangente da participação democrática e dos direitos dos cidadãos na "coisa pública" (definição de República, Res Publica), um referendo que pretenda limitar (mesmo que de uma forma bastante ténue) esses direitos seria, apesar de veicular uma decisão democrática, um retrocesso factual do conceito democrático existente.

publicado por Luís Pedro Mateus às 21:32
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Quinta-feira, 13 de Maio de 2010

A ética no trabalho

Quando um BCP apresenta um aumento de lucros na ordem dos 12% para 225 milhões de euros em 2009 e recusa bónus aos trabalhadores com a justificação de ter tido um "ROE" baixo (rentabilidade de capitais próprios), quando este aumentou, só contribui para a desconfiança e descontentamento já existentes na sociedade em relação aos bancos.

Há que ter ética no trabalho. Não faz sentido numa empresa que apresenta lucros enormes, dividirem-se os lucros unicamente entre os accionistas e administradores e deixar os trabalhadores de fora.

É um princípio de justiça, de boas prácticas, recompensar os trabalhadores quando uma empresa tem um bom desempenho. Não o fazer é desvalorizar os mesmos, não o fazer é desvalorizar o trabalho, não o fazer é contribuir para clivagens entre trabalhadores e direcções e minar a harmonia numa empresa.

No caso particular dos bancos, a situação é, ainda mais, incompreensível e injusta.

No meio da enorme crise que se passou e ainda dura, os bancos obtiveram lucros inimagináveis. Além disto, os trabalhadores bancários são dos mais explorados a nível de horas de trabalho, sendo prova disso as multas recorrentes que os bancos pagam à Autoridade do Trabalho por não pagarem horas extraordinárias aos seus trabalhadores.

Face a isto, de facto não compreendo como é que o maior banco privado português se pode dar ao luxo de justificar algo injustificável, ainda por cima com uma falácia. É uma falta de ética, de valores, de responsabilidade e de justiça que, infelizmente, o BCP já vem habituando os portugueses através de demasiados casos.

 

Numa altura em que temos em solo português um ilustre escolástico de nome Joseph Ratzinger, cuja obra acerca de ética é de um valor inestimável, e que essa mesma ética - como princípio imperativo a toda a acção humana (na vida, no trabalho, na política) - tem andado na ordem do dia, convém, já agora, pensarmos nisto.

publicado por Luís Pedro Mateus às 00:28
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Sábado, 20 de Fevereiro de 2010

Temos muito azar

Não me espanta que José Sócrates assuma até ao fim esta faceta de liderança. A necessidade de dar um murro na mesa, a quem em momentos de fragilidade nos tira o tapete, é um instinto tão natural para quem sabe que as opções se estão a esgotar e que as evidências começam a gritar para lá do que é suficientemente perceptível. Por isso, faz todo o sentido que este orgulho impeça aquilo que normalmente seria de esperar no nosso habitué cenário político: uma desistência.

 

Objectivamente, o simples facto de existirem indícios de condutas éticas dúbias, denunciadas e perfeitamente contextualizadas por vozes reconhecidas sobre o chefe do governo, seria material moral mais do que suficiente para o próprio tomar a iniciativa de uma defesa da honra elementar. Mas José Sócrates, orgulhoso, não vai fazer nada disso. Temos muito azar.

publicado por Manuel Oliveira às 03:38
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Sábado, 6 de Fevereiro de 2010

A falsa crise

Nos últimos dias tem-se assistido a uma hipotética "crise" governativa causada, ao que parece, pela Lei das Finanças Regionais.

 

O Governo PS, na sua extrema dramatização da questão, vem dizer que numa altura de contenção e de controlo de endividamento externo, permitir à Madeira subir o seu limite de endividamento seria um mau sinal para o mercado e para os organismos que observam Portugal: UE e agências de rating.

 

Ora bem, admitamos que a permissa é verdadeira. Que a razão deste "finca-pé" é, de facto, uma questão de princípio. Nesse caso, não seria expectável que, em nome da coerência de princípio, este mesmo Governo se esforçasse por conter a despesa e o endividamento noutras situações que agravam, exponencialmente mais, essa mesma despesa e endividamento externo?

 

Não seria expectável que, em nome da coerência da permissa que o Governo apresenta, se no continente se defende que se deve aumentar o endividamento (com TGV, Aeroporto, nova ponte sobre o Tejo e novas estradas) por este permitir um investimento imediato que, supostamente, reanimará o emprego e os índices económicos, a mesma premissa fosse defendida para as regiões autónomas?

 

Não falemos sequer da pseudo-credibilidade que um Governo como o nosso tem para falar do "despesismo" da Madeira. Será por acaso o Estado Português e os Governos que o lideraram nestes últimos 35 anos algum exemplo de boa gestão?

 

Portanto, ficando estabelecido que este irredutível princípio do Governo é incoerente com a sua linha geral de governação, importa descobrir então que motivação (porque a há sempre na política) estará oculta nesta linha estratégia radicalizada na ameaça de demissões e na insolência da promessa de não cumprir o deliberado pela Assembleia da República, órgão soberano representante do povo.

 

Temos duas hipóteses.

 

1 - Esta estratégia visa forçar um confronto radicalizado que pareça legitimar uma demissão do Governo por incapacidade governativa, um "abandonar o barco" e deixar o "pântano governativo" para outros. Algo que o PS já fez, pela mão de Guterres, com Sócrates a ministro - "Old habits die hard".

 

2- Esta estratégia visa forçar um confronto radicalizado que pareça legitimar uma demissão do Governo que, alegando impossibilidade de governar, peça maioria absoluta (terreno favorito) ao eleitorado, aproveitando de uma assentada a indecisão actual no PSD com a fuga ao desgaste que as próximas presidenciais farão a Sócrates onde, quer Cavaco, quer Alegre não lhe darão "palmadinhas nas costas".

 

Será lícito especular que o Governo liderado por José Sócrates fosse capaz de tal atitude aviltante?

 

Bom, para fazermos esta pergunta teríamos igualmente de nos questionar se este mesmo Governo e se este mesmo Primeiro Ministro seriam capazes de, por exemplo, mentir sobre o défice em época de eleições para, logo depois das eleições apresentar o seu verdadeiro valor.

Teríamos de nos questionar se seriam capazes de, por exemplo, engendrar desaparecimentos de programas e de jornalistas que sigam uma linha de crítica ao Governo.

Teríamos de nos questionar se seriam capazes de aceitar subornos para licenciar obras ignorando impactes ambientais.

Teríamos de nos questionar se seriam capazes de assinar projectos da autoria de outros técnicos.

Teríamos de nos questionar se seriam capazes de participar em processos ilegais de obtenção de habilitações académicas.

Teríamos de nos questionar se seriam capazes de mentir sobre as suas habilitações académicas.

Teríamos, enfim, de nos questionar se seriam capazes de alterar as leis do código de processo penal apenas para estas encaixarem que nem uma luva no processo "Casa Pia".

 

Teríamos de nos questionar, portanto, sobre muita coisa.

Ora, questionar é algo que o povo português, actualmente, parece não gostar muito.

Mais grave que isso, questionar é algo que o Governo, actualmente, parece não gostar muito.

publicado por Luís Pedro Mateus às 14:29
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Quinta-feira, 21 de Janeiro de 2010

A relativização da verdade

[Publicado inicialmente aqui]

 

O título parece assumir um poder, uma força merecedora da maior eloquência filosófica na abordagem à problemática. Aviso que defraudarei expectativas. Limitar-me-ei a constatar essa evidência categoricamente afirmada no título do post.

 

O facto, a evidência que habita, em surdina, o senso comum do mais comum dos cidadãos, é que as palavras “verdade” e “política” são antónimos.

E porquê? Porque razão a política não se parece coadunar com a verdade, no entender dos cidadãos? A resposta é simples. Os políticos, pelas acções, pelos discursos, têm defraudado constantemente as expectativas da população. A “verdade” política serve uma agenda, é normalmente um engodo, um sofisma. Escondem-se os factos que rebatem determinada “verdade”, os partidos isolam-se em si próprios ao invés de dialogarem, honestamente, um projecto para o país, e cai-se nesse ciclo que é o “jogo” da política.

 

A gravidade da situação, por se tornar senso comum que “eles não fazem nada” e que “são todos iguais”, é que esta  ameaça caminhar numa direcção explosiva – uma total descrença no sistema democrático (já bem patente nos níveis de abstenção).

 

Cabe à sociedade civil consciente e informada, mobilizar-se e pressionar por mudança. Está visto que os movimentos de cidadãos não resultaram. A mudança passará, portanto, pelos partidos políticos. Enquanto a sociedade civil capaz e dinamizadora, ainda a maioria silenciosa, não se aperceber que a solução está em aproximar-se dos partidos para os mudar e não em afastar-se e deixá-los decair nos seus vícios, esta situação de divórcio entre cidadãos e política dificilmente será invertida.

 

Nunca haverão demasiados pessoas de Bem na política. A virtude está com o cidadão altruísta que faz da política, efectivamente, uma práctica para o bem comum.

publicado por Luís Pedro Mateus às 00:24
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Sábado, 19 de Dezembro de 2009

Apontamento

Os tempos que vivemos são de relativização absoluta.

O indivíduo não pode ser refém de teorias políticas utópicas que, directa ou indirectamente, o relegam para segundo plano, quer em nome da igualdade social, quer em nome de insensíveis visões economicistas ou de "livres arbítrios" institucionalizados.

 

A política deve ser um desdobramento natural da ética.

Talvez se seja demasiado idealista por possuir este conceito, ainda influenciado pelas velhas reflexões políticas de Aristóteles.

Bem se sabe que actualmente a dúvida da definição de política pende entre esta ser a ciência do Estado ou a ciência do poder - definição mais pragmática e realista, um prolongamento natural da visão de Maquiavel.

 

Volte-se à visão "emprestada": a política como um desdobramento natural da ética. A ética como uma ciência das condutas, posições adquiridas entre vícios e virtudes, bem e mal, com o objectivo final de garantir ou possibilitar o atingir da felicidade.

Neste seguimento da ética como um modo de garantir a conquista da felicidade individual, a política deve ser vista como o seu desdobramento, mas visando, através da felicidade individual, uma felicidade colectiva, ou seja, o bem comum.

Nesse processo, a política investigará a forma de governo que assegure esse fim, ou seja, a constituição do Estado.

publicado por Luís Pedro Mateus às 18:41
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Sábado, 5 de Dezembro de 2009

Democracia-Cristã, Socialismo e Objectivismo

Alguns liberais, não todos, gostam de pintar a Democracia Cristã (DC) como um socialismo light… Não percebo porquê, mas talvez seja por alguns acharem que o liberalismo é a única inspiração possível para a direita democrática.

Esta crença é facilmente desmistificada tomando, como exemplo, o caso alemão, sueco ou holandês (para não alongar muito a lista).

 

Achar que a DC se limita às encíclicas “Populorum Progressio” e “Rerum Novarum” é bastante redutor. Assim como é redutor achar-se que se tem de ser crente para se ser democrata-cristão.

Não existe incoerência nenhuma. A DC defende o Estado laico, logo, não se vislumbra qualquer obrigatoriedade de se ser crente para se ser democrata-cristão.  Alguém que acredite nos 10 mandamentos terá que, obrigatoriamente, ser crente no deus dos judeus e cristãos?

 

Quando se fala de socialismo e democracia-cristã, comparando as duas, é impossível não apontar que desde o início o socialismo foi anti-capitalista (agora não o será, nomeadamente o intitulado de “socialismo democrático” ou “social-democracia”), equanto que a democracia-cristã nunca o foi.

A DC tem, isso sim, uma visão reformuladora do capitalismo, mas isso não é ser contra, tão somente é ser construtivo. É ser a favor de um aperfeiçoamento, de uma evolução que, na visão democrata-cristã, passa por uma consciencialização de imperativos éticos cristãos aplicados à vida e aos negócios.

 

O liberalismo moderno assenta, em grande parte, no Objectivismo de Ayn Rand que, de certa forma, colidem com alguns pressupostos éticos cristãos.

O problema ético do Objectivismo de Rand assenta no facto de esta ignorar completamente a nobreza ética que constitui a acção de um homem que vise o bem comum dos seus pares e não apenas o seu bem individual. Limita-se a chamar-lhe “altruísmo”, classifica-a como “fraqueza”.

A DC não partilha dessa visão. Acredita num Homem que tenha consciências sociais. O Homem não cria apenas para o seu benefício. Cria também em benefício dos outros, exemplos não faltam durante a História. O Objectivismo de Rand, sendo uma inspiração interessante no que toca a produtividade das sociedades, ignora esse facto.

 

Rand ridiculariza toda a acção “altruísta” por achar que este tipo de acção é contra-natura, é contra o próprio interesse individual. Critica a sociedade que valoriza actos altruístas, intitula-os de uma barbárie de sacrifício individual.

Rand acha que o Homem tem de funcionar sozinho, com a sua mente como única arma e funcionando num sistema de troca justa. Pois acontece que, infelizmente, existem pessoas que nada têm para oferecer para poderem receber algo em troca.

Defender um Estado como pessoa de bem que ajude a aliviar a pobreza não é ser-se socialista. A DC não o é e defende-o pelo menos. O importante é perceber que existe uma diferença entre um altruísmo para "ajudar a levantar" e um altruísmo que cria dependência e sustenta a pobreza.  A DC vê a compaixão como um bem, mas em Rand não existe o enaltecimento da compaixão, existe o enaltecer do “egoísmo” e por isso, pelos parâmetros democratas-cristãos, existe essa falha moral/ética.
 

 

“Altruism permits no concept of a self-respecting, self-supporting man—a man who supports his own life by his own effort and neither sacrifices himself nor others … it permits no concept of benevolent co-existence among men … it permits no concept of justice”

- Aynd Rand, “Virtue of Selfishness”

Talvez a grande problemática é que Rand e os Objectivistas decidem dar às palavras “egoísmo” e “altruísmo” um significado mais produndo de filosofia de vida. Todos nós somos egoístas em algumas coisas e altruístas noutras. Por isso, não se vê grande interesse (para além de meramente académico) em estar a dar novas definições a essas palavras.

 

A grande questão, que é mais "palpável" a nível político, é a do papel do Estado. Se o Socialismo acredita na pureza do Estado omnipresente, o Liberalismo acredita na pureza do indivíduo e, em teses mais radicais, no fim do Estado. A história já provou que a Sociedade sofre quer com o Estado sufucante e dominador, quer com o Estado não regulador que acredita cegamente na ética de cada indivíduo.

Por isso a Democracia-Cristã acredita no meio termo.
Acreditar que só o Estado sabe gerir é utopia.
Acreditar que os indivíduos, sozinhos e sem regras, gerem bem, é outra utopia.

Aqueles liberais que se recusam a admitir as falências e as falhas dos modelos económicos extremamente liberais de alguns países e continuam a advogar, dogmaticamente, a pureza do mercado livre e desregulado, assemelham-se aos Comunistas que também recusaram (e ainda recusam) perceber a falência do modelo que preconizavam.

Algumas coisas não são preto ou branco, têm intermédios e o centro-direita é um espaço grande que aguenta bem com convivências, saudáveis até, entre democratas-cristãos e liberais (que resultam bem noutros países) que, visto bem as coisas, inspiram-se e "controlam-se" positivamente. 

 

O Homem não é bom por natureza. A Democracia não é perfeita.

A esperança reside em que haja um Estado de Bem, composto, logicamente, por Homens de Bem, que equilibre a balança entre altruísmo e egoísmo sem interpretações utópicas e dogmáticas de socialismos e liberalismos.

publicado por Luís Pedro Mateus às 19:44
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Sexta-feira, 4 de Dezembro de 2009

... (2)

Hoje, na Assembleia da República, depois de ter sido pronunciada pelos lábios do Primeiro Ministro, a Ética morreu (mais) um bocadinho!

 

Porquê?

Eu até punha os links todos referentes aos casos que provam a grande ética de José Sócrates, como por exemplo neste caso, ou neste... Mas são tantos que nem vale a pena.

 

 

publicado por Luís Pedro Mateus às 19:15
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Quarta-feira, 2 de Dezembro de 2009

Os minaretes da democracia

O Islão implica muçulmanos, o Islão implica mesquitas, o Islão implica minaretes. São factos que dispensam qualquer esforço mental.

 

A probição da construção de mais minaretes na Suiça é uma questão que, ao que parece, já requer um pequeno esforço de análise.

 

A liberdade religiosa é um imperativo, é um direito humano fundamental. Na Europa onde vivemos, que se rege pelos cânones civilizacionais do ocidente democrático, de matriz judaico-cristã, aprendemos a evoluir e a respeitar a liberdade das pessoas para seguir e praticar a religião à sua escolha.

 

Parece-me a mim, como aqui já o disseram, que esta questão está coberta de ridículo. Não existe uma justificação aceitável para esta proibição e até as instâncias religiosas católicas e protestantes já vieram condenar o resultado do referendo, advogando precisamente,  que a liberdade religiosa é um direito fundamental.

 

Não deixo de ter um espírito crítico quanto às comunidades muçulmanas que vivem em solo europeu. Em França, principalmente, como na Alemanha e Suécia, estas comunidades tornam-se num problema sensível quando, insistentemente, continuam a isolar-se e a desrespeitar leis de direitos humanos (principalmente no que toca o tratamento das mulheres) que colidem com as suas convicções religiosas.

 

Eu não sou politicamente correcto nem tenho complexos anti-"sionistas" (o que quer que isso signifique) que me faça ter uma atitude de desculpabilização em relação aos muitos defeitos do Islão que é, vê-se, facilmente radicalizável. Para mim, a nossa civilização é melhor que a islâmica ou a chinesa no que toca o respeito pelo próximo - é esta a revolução do pensamento cristão - e foi precisamente esta nossa civilização que, apoiada numa matriz judaico-cristã de pensamento moral e ético, foi evoluindo essas bases, tornadas Lei, de modo a um melhor funcionamento da sociedade, de respeito pelo próximo e com uma intrínseca aderência aos valores democráticos. Evolui-se.

 

Somos mais democráticos e mais respeitadores do que os chamados Regimes Islâmicos que ainda não separam a religião do Estado. A nossa superioridade moral (não tanto nas pessoas, mas nos regimes) está patente na forma como os tratamos cá, em solo europeu, nesta nossa civilização que lhes dá os mesmos direitos que qualquer cidadão nascido na europa ou em áfrica, cristão ou muçulmano, ateu ou crente, homem ou mulher. Mas os direitos acarretam, como todos sabemos, deveres. Portanto trata-se de um compromisso que cada cidadão firma com a sociedade onde se está a inserir.

 

Numa altura em que tudo é considerado aceitável, onde as sociedades se moldam consoante as vontades da maioria - é esta a forma democrática - o modelo de Estado democrático enfrenta um grande desafio.

O processo de decisão e de governo democrático nunca se deve fazer anteceder de algo que lhe é anterior e superior: a moral e a ética.
O facto de uma decisão ser democrática não significa, necessariamente, que esta seja aceitável. Se assim fosse, 50,1% de uma população poderia decidir matar os outros 49,9%. Teria sido uma decisão democrática, sem dúvida, mas inaceitável.

O sucesso da democracia depende portanto da consciencialização desta de que existem limites à sua acção.

A suprema herança que o cristianismo deixa à civilização é precisamente a sua ética. A ética cristã que, quer a crentes e ateus, vincula a consciência individual das acções de cada um, é algo que ultrapassou o significado religioso e se tornou intrínseca ao quotidiano da sociedade.
 

 

Se a sociedade não cair em tentações pírricas, anarquismos e anti-clericalismos, ou seja, se compreender que o Estado não re-inventará a ética dos Homens e que esta é superior e anterior ao próprio estado democrático, estará certamente no rumo do progresso sustentável e de evolução cultural.

 

Numa altura em que se debate, por exemplo, a obrigatoriedade da educação sexual nas escolas (nem vou falar dos minaretes), convinha interrogarmo-nos como cidadãos se o ensino da moral e da ética, sem qualquer preconceito ou fanatismo religioso, não seria muito mais importante, vital até, para a melhor formação dos cidadãos.

 

De facto, os minaretes de que precisamos são aqueles em que se faça o chamamento à consciência interior de cada indivíduo em versos de paz e respeito que inspirem o melhor em cada um.

 

publicado por Luís Pedro Mateus às 15:18
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